quinta-feira, março 22, 2007

O que mais te surpreende na Humanidade?

"Os Homens... Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido."

Dalai Lama

domingo, março 04, 2007

Eclipse da Lua


Desilusão & Egoísmo

"A desilusão é parte de um egoísmo que vive em nós!"
Bruno Coelho

O segundo entre vida e morte...

PUM... PUM...
O meu coração bate baixinho. Aos meus ouvidos só um silêncio ruidoso se faz ouvir. Um clarão trespassa-me a visão para uma eternidade de cegueira. Caio desamparado sobre a calçada molhada, bato com a cabeça no chão e perco os sentidos. Sinto o meu corpo fugir à medida que fechava os olhos devagarinho. O meu coração mal bate, já não sinto, já não sinto...
Um frio curto toca-me quando fecho os olhos, acompanha-me nos segundos rápidos do meu sono. Contudo, algo se agita dentro de mim e provoca-me um tremor. Não dou conta, seguia com olhos fixos uma intensa luz branca ao fundo da escuridão. Queria alcança-la para lhe tocar mas os pés fugiam-me, não estava preparado.
Encantado pela luz via a vida fugir. Em volta de mim, para lá do meu sono, da vida que me era real, as pessoas se aglomeravam e davam as vidas para me acordar, mas ainda não era tempo, ainda via a luz ao fundo, começava a sentir o seu calor.
No frio, que me gelava de dentro para fora, sentia agora um formigueiro do adormecer do corpo. Senti um enorme desconforto ao ver-me impotente para controlar tal situação, senti medo pela primeira vez…
Voltavam os tremores, agora mais fortes que nunca. Passaram a convoluções rítmicas mas espaçadas. Entre os tremores o meu corpo morria para logo de seguida voltar. Morria e nascia repetidamente. A luz se fechava e se abria aos meus olhos até que se fez sentir uma enorme pressão sobre mim. A luz apagou-se e só restava agora a escuridão. O meu corpo parecia rebentar mas não sentia dor. Contudo, estava só no limite, os meus ouvidos começaram a zumbir tão alto, comecei a sentir uma dor no peito, parecia que estava próximo de rebentar. A dor aumentava cada vez mais, já não aguentava, queria apagar-me de vez. Parecia que estava a ser pisado por um elefante do tamanho de uma casa.
PUM… PUM.
Senti de novo o meu coração bater baixinho. A dor apaziguou-se dentro de mim, os ouvidos ainda zumbiam mas já me acostumava à sua presença. Senti novamente a força nas pálpebras dos olhos e esforcei-me para os abrir. Ainda não conseguia.
A luz branca que se tinha apagado, voltava calmamente enquanto respirava baixinho. Via-a como um anjo a aproximar-se, aumentava gradualmente até chegar tão perto de mim que podia tocar-lhe. Não quis tocar, só fiquei a observa-lo. Esta luz em forma de anjo já não era tão intensa como antes, sentia até uma sombra em seu redor. Rodava ou rodopiava em volta da luz que se voltava a apagar. Já não havia luz nem anjo, só o negro da sombra que deambulava nos meus olhos, livre e intensa. Os ouvidos continuavam a zumbir, o peito continuava a doer-me e respirar não era fácil. A sombra não me saía dos olhos, começava a assustar, começava a ganhar forma. Envolto de si mesmo a sombra criava a ilusão do terror e do medo, fiz-me forte, mas a sombra já não era sombra mas sim a carnificação do demónio que se alastrava pela minha alma, que se agarrava a mim com unhas de gato e me puxava para si. Num ápice de segundo cegou-me e sufocou-me enquanto me engolia nele mesmo. Ainda lutei, ainda tentei abrir os olhos mas ele era mais forte que eu e não me deixava fugir porque me prendia a correntes invisíveis. Eu sei que não havia nada, não existia nada, era só imaginação da minha mente, provocada pelo meu estado febril talvez, queria acreditar em tal pois o que via era demasiado horrível e assustador para ser real. Sentia as pálpebras dos meus olhos tremerem à medida que tentava abrir os olhos, quase conseguia, quase, falta pouco. Só um último esforço e serei novamente livre. Queria respirar, não conseguia, estava aflito, em pânico. Parecia que tinha a garganta tapada, sentia-me delirar dentro do demónio, queria gritar e libertar-me e voltar a respirar, queria gritar, queria…
Fugi, acordei, levanto-me do chão ainda sufocado, tento gritar e finalmente o grito sai-me livre e alto. Continuei a gritar durante alguns segundos para logo depois cair num choro de aflição. Parecia que não chorava desde pequenino. As pessoas olhavam-me com o olhar assustado. Não conseguia parar, era mais forte que tudo, queria sentir-me vivo e senti-me vivo. Senti o pânico e o medo de morrer, queria respirar e tocar em alguém, beijar alguém, sentir o amor e purificar-me de todo o mal.
Senti o aperto de alguém, não consegui ver a sua face mas fez-me sentir bem. Pouca força tinha para fazer mais do que simplesmente aceitar o seu aperto em mim. Pousei a minha cabeça em seu ombro, senti-me bem, deixei-me ficar…

Por vezes é preciso morrer para saber viver. Foi quando pousei a cabeça no seu ombro que senti que vivia e podia viver. Não sei se o que vivi foi real ou só pura imaginação da minha alma nas últimas gotas de oxigénio.
Na hora da nossa morte existe uns instante de tempo que nos parece eterno mas que na realidade não passa de uns milésimos de segundo da dimensão que vivemos. Nesse instante de segundo criamos um sonho, um sonho à nossa imagem. O que eu vi foi Deus e o Demónio porque era o que eu acreditava, foram os filmes que vi enquanto vivia que me deram as imagens que precisava, só tive que sonhar. Se tivesse sonhado só com Deus provavelmente não iria querer voltar a viver por isso o Demónio fez-me lutar para viver. Deu-me a força que precisava. Isto é o mais próximo que alguém conseguiu descobrir da morte. É o segundo em que o nosso coração pára e o nosso cérebro ainda trabalha. Para lá deste segundo ninguém voltou porque por lá ficaram.